A Prefeitura de São Félix do Xingu cancelou oficialmente o concurso público municipal em 31 de janeiro de 2025, por meio de decreto assinado pelo prefeito Fabrício Batista. A decisão ocorre após um longo histórico de descumprimento de um acordo judicial com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e de irregularidades apontadas no certame.
O concurso já estava suspenso por decisão liminar da Vara do Trabalho de Xinguara desde 18 de dezembro de 2024. Além disso, o município enfrenta multas que, atualizadas, ultrapassam R$ 13 milhões devido à não substituição de servidores temporários por concursados, conforme previa um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2006.
A gestão atual alega que, além dos problemas jurídicos, a Prefeitura não tem capacidade financeira para arcar com a contratação dos 430 servidores previstos no edital, o que poderia comprometer as contas públicas.
Histórico do processo
A disputa judicial envolvendo o concurso público começou em 2004, quando o MPT ingressou com uma Ação Civil Pública questionando a substituição de servidores concursados por temporários em cargos permanentes. O TAC firmado para regularizar as contratações foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas sua aplicação sofreu sucessivos adiamentos.
Principais eventos:
2004: Ação Civil Pública ajuizada pelo MPT.
2006: TAC firmado, mas execução suspensa até 2012.
2006 e 2009: Prefeitos Denimar Rodrigues e Antônio Paulino da Silva realizaram concursos, mas sem atender integralmente às exigências do MPT.
2013-2016: Durante o primeiro mandato do ex-prefeito João Cléber, o concurso previsto não foi realizado. Em 2017, o município foi multado em R$ 9 milhões pelo descumprimento do TAC.
2019: A então prefeita Minervina Barros promoveu um novo concurso, mas o MPT apontou falhas na execução do acordo.
2020-2024: O município recebeu novas intimações do MPT para comprovar a substituição dos temporários por concursados. Como as irregularidades persistiram, a multa chegou a R$ 11 milhões.
2023: A gestão anterior firmou novo acordo judicial para realizar concurso com apenas 28 vagas, mas o compromisso não foi cumprido.
2024: Após as eleições, a administração lançou quatro editais prevendo 430 vagas, contrariando o acordo judicial e agravando a situação.
Decisão da gestão atual
Diante desse cenário, o prefeito Fabrício Batista entrou com ação na Justiça pedindo o cancelamento do concurso. A medida foi justificada pela impossibilidade de cumprir as exigências do TAC e pela falta de recursos financeiros para nomear todos os aprovados.
A Prefeitura também ressaltou que a ampliação do número de vagas de 28 para 430, feita pela gestão anterior, ocorreu sem estudo técnico e sem capacidade orçamentária para sustentar as contratações. Segundo a administração municipal, o certame, caso fosse mantido, poderia gerar um impacto financeiro insustentável.
Para evitar novos questionamentos jurídicos, a Prefeitura adotou as seguintes medidas:
Exoneração de todos os funcionários temporários irregulares.
Suspensão de novas contratações temporárias até decisão do MPT.
Contenção de gastos para viabilizar um novo concurso dentro das normas legais.
Estudos técnicos para planejamento de um certame durante a gestão 2025-2028.
Além disso, a administração municipal afirmou que os candidatos inscritos no concurso receberão o reembolso das taxas de inscrição. A devolução será feita pela empresa organizadora do certame, conforme um cronograma a ser divulgado nos próximos dias.
Negociações e próximos passos
A Prefeitura informou que, em janeiro de 2025, representantes do município estiveram na sede do MPT da 8ª Região, em Belém, para tratar da anulação do concurso e da renegociação das multas.
Posteriormente, o governo municipal também dialogou com o Juízo da Vara do Trabalho de Xinguara sobre a necessidade de uma nova audiência para reformular o TAC. A proposta é rever o acordo judicial e estabelecer um novo concurso público que respeite a realidade financeira e as exigências do MPT.
Principais questionamentos
Por que o concurso foi cancelado?
O cancelamento foi motivado pelo descumprimento de um acordo judicial que determinava a substituição de servidores temporários por concursados. Além disso, a ampliação das vagas de 28 para 430, feita pela gestão anterior, foi considerada inviável financeiramente e juridicamente questionável.
Quais medidas foram tomadas anteriormente?
A Prefeitura realizou concursos em 2006, 2009 e 2019, mas sem cumprir integralmente as obrigações do TAC. Ao longo dos anos, novas multas foram aplicadas devido à manutenção de contratações temporárias sem justificativa legal.
O que muda com a decisão da atual gestão?
Com o cancelamento do concurso, a Prefeitura busca renegociar as exigências do TAC com o MPT e reorganizar a realização de um novo certame, desta vez planejado para ocorrer entre 2025 e 2028. Também garantiu o reembolso das taxas de inscrição dos candidatos prejudicados.
Devolução das taxas de inscrição
A administração municipal informa que todos os candidatos inscritos terão direito ao reembolso dos valores pagos na inscrição. O município está em contato com a banca organizadora do certame para definir a melhor forma de devolução.
Após a conclusão dos trâmites administrativos e jurídicos, os detalhes do reembolso serão oficialmente divulgados à população por meio de decreto ou portaria.
Conclusão
O caso do concurso público de São Félix do Xingu evidencia um histórico de descumprimentos judiciais e gestão ineficaz de contratações públicas ao longo das últimas décadas. A decisão de cancelamento do certame por Fabrício Batista busca corrigir falhas passadas e garantir a realização de um novo concurso dentro dos parâmetros legais e financeiros adequados.
Agora, o município aguarda novas tratativas com o MPT e o Judiciário para definir um modelo viável de contratação de servidores efetivos, com maior transparência e responsabilidade fiscal